Inflação disparada virou bandeira política e promessa
eleitoral. Em campanha pela reeleição, a presidente Dilma Rousseff e seus
trapalhões esconjuram toda proposta de conter a alta de preços e conduzi-la a
um nível mais civilizado e mais compatível com os padrões internacionais.
Baixar a meta de inflação produzirá desemprego, arrocho salarial e recessão,
disse o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, segundo a Folha de
S.Paulo. Alguns dias antes, sua chefe, a presidente da República, havia criticado
a proposta de baixar o alvo para 3%, como se essa fosse uma receita certeira
para levar o desemprego a uns 8% ou até mais. A propósito, a desocupação no
Brasil está mesmo na faixa de 5%, como indica a pesquisa tradicional do IBGE,
limitada a seis regiões metropolitanas, ou na de 7%, como apontou Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) contínua, realizada em 3.500
municípios?
Prometer inflação elevada para conquistar ou manter
eleitores pode parecer muito estranho a quem desconhece o Brasil. Mas espanta
muito menos quando aumenta a familiaridade com o País. Afinal, se o ministro do
Esporte promete aos visitantes um ambiente pelo menos tão seguro quanto a
guerra do Iraque, os padrões de normalidade geralmente aceitos deixam de valer.
Essa convicção se reforça quando o chefe da Casa Civil confirma e defende o
represamento de preços, para conter a inflação, e é desmentido um dia depois
pelo ministro da Fazenda.
Admitindo-se boa fé, só uma escandalosa ignorância da
economia internacional, e até da sul-americana, pode explicar a paixão da
troupe de governo por uma inflação em torno de 6%. Sim, em torno de 6%, porque
esse tem sido o padrão brasileiro a partir de 2008.
Nesses anos, os preços agrícolas subiram e desceram nas
bolsas internacionais e o real oscilou no mercado cambial. Ninguém pode
seriamente atribuir a inflação nesse longo intervalo - resistente e quase
constante - a choques desta ou daquela categoria de preços ou a impactos do
câmbio.
A alta de preços em 12 meses pouco variou nesse período.
Diminuiu por intervalos muito breves e mais de uma vez bateu no limite da
margem de tolerância, 6,5%.
Na medida gregoriana, o produto interno bruto (PIB)
cresceu rapidamente só em 2008 (5,2%) e em 2010 (7,5%, depois de uma recessão).
Nos outros anos o resultado foi miserável: contração de 0,3% em 2009 e expansão
de 2,7% em 2011, apenas 1% em 2012 e 2,3% em 2013, mas este número ainda será
revisto. Com o novo cálculo da produção industrial, o aumento do PIB poderá
ficar um pouco maior, mas com certeza continuará abaixo de medíocre.
Apesar da pífia expansão econômica, a inflação anual
pouco mudou e permaneceu muito acima dos níveis observados em outros
emergentes. O Brasil é uma raridade no quadro internacional, com essa
combinação de baixo crescimento econômico e rápido aumento de preços. A
diferença entre a inflação brasileira e as taxas observadas em outras economias
é um permanente fator de desajuste cambial. Qualquer pessoa medianamente
informada é capaz de reconhecer esse fato - menos, é claro, o governo
brasileiro e uma parte do empresariado industrial.
Empresariados vivem cobrando câmbio mais favorável, como
se alguma taxa cambial servisse, por mais que alguns meses, para compensar a
baixa produtividade - tanto empresarial quanto sistêmica -, os custos elevados
dentro e fora da fábrica, a insuficiente inovação e outras desvantagens. Em
contrapartida, raramente um líder empresarial pressiona as autoridades para conter
e tornar mais eficiente o gasto público ou para combater com mais eficiência a
alta de preços.
Com a política centrada no estímulo ao consumo e na
distribuição seletiva de benefícios fiscais e financeiros, nada mais previsível
que a estagnação da indústria e seu enfraquecimento diante da concorrência
externa. A participação das importações no consumo de bens industriais alcançou
um novo recorde no primeiro trimestre deste ano, 22,5%. No começo de 2007
estava em 17%. Subiu até 20% no fim do ano seguinte, caiu até 15,9% no começo
de 2010 e voltou a subir. Não se trata, convém sempre lembrar, do efeito de uma
abertura maior da economia brasileira, uma das mais protegidas do mundo, mas do
resultado de uma ineficiência cada vez mais danosa.
A redução do emprego industrial é um desdobramento dessa
história. Em março, o número de assalariados na indústria foi 0,2% maior que em
fevereiro, mas 1,9% inferior ao de um ano antes. De janeiro a março o total foi
2% menor que no primeiro trimestre de 2013.
A combinação de inflação elevada, destruição dos empregos
mais decentes, aumento de juros e redução de alguns estímulos seletivos já se
reflete no consumo. Em março, o comércio varejista restrito vendeu 1,1% menos
que um ano antes. As vendas do varejo ampliado (com inclusão de veículos,
autopeças e material de construção) foram 5,7% inferiores às de março de 2013.
A mágica do consumo perde força.
O PIB do primeiro trimestre ainda será divulgado, mas o
Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), divulgado na
sexta-feira, reforça a avaliação de um quadro muito ruim. Esse indicador
diminuiu 0,11% de fevereiro para março. No primeiro trimestre foi apenas 0,3%
maior que nos três meses finais de 2013 e 1,02% superior ao de janeiro a março
do ano passado. O aumento acumulado em 12 meses ficou em 2,11%. Todos os
números apontam uma desaceleração a partir do fim do ano. Nesta altura, o
governo deve torcer pela mera repetição
do mau resultado de 2013. Mas a fórmula para fortalecer a economia nos próximos
anos é bem conhecida no Palácio do Planalto: mais do mesmo, com o cuidado
especial de manter a inflação elevada.
Comentário de Eduardo Cseny: Gostei
do artigo do Rolf, mas eu pessoalmente acho cedo para tirar conclusões . Entendo que inflação de 6% é alta e que os descompassos
repetidos na economia, levam a pífios índices de crescimento. Agora quanto a
meta de 3% de inflação, é o que precisamos, mas o Candidato do PSB ainda não
apresentou seu planejamento para a economia, suas metas e como fará para
corrigir as eventuais distorções que se apresentam. Quero crer que tem soluções
para atingir o objetivo sem causar recessão e seus danos a economia do país.
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